Não é apenas a moqueca capixaba que chama a atenção dos
turistas que visitam o Espírito Santo. As panelas de barro, que acomodam a
receita, também são destaque da culinária local. A produção das peças é feita
pelas chamadas Paneleiras do bairro de Goiabeira, em Vitória, há mais de 400
anos. Não à toa, o ofício tornou-se Patrimônio Cultural Brasileiro.

O processo produtivo, 100% manual, é feito por diversas
famílias e se inicia com a colheita do barro semanalmente. Depois de molhar e
pisar o barro – “para dar liga”, como explica uma das paneleiras –, o material
é “limpo” para retirada de pedras, galhos e qualquer resquício que possa
interferir na produção.
Diversas famílias se revezam nas tarefas de fabricação, cujo
método é passado de geração a geração. Simone Siqueira Barbosa, de 31 anos, é
uma novata por ali. Apesar da família dela já ter tradição no ofício, ela nunca
havia se interessado pelo trabalho manual. “Todo mundo fala que faz parte de
nossa cultura, então estou aprendendo”, explica.
A venda do barro para o grupo de artesãos é feita em
“bolas”. Cada uma custa R$ 2. “Com 10 bolas dá para produzir 20 panelas médias
para quatro pessoas, com tampa”, explica Eonete Alves, de 59 anos, que trabalha
há 30 anos como paneleira ao lado de mais quatro irmãos, seguindo a tradição
dos avós. Em média, cada panela deste tamanho é vendida por R$ 20 ao consumidor
final.
Quem adquire panelas, frigideiras, tigelas e até cofrinhos
de barro pode acompanhar todo o processo de produção das peças, do molde à
queima.
Com as mãos e o auxílio do coité, uma espécie de cuia, as
paneleiras moldam a peça e, em seguida, raspam o fundo com um arco de ferro.
Para retirar as asperezas e deixá-la lisinha, outro produto natural é
utilizado: pedras de rio. Após esse processo, a peça segue para a secagem, que
dura alguns dias. “Quando o tempo está ruim, fica quase uma semana enxugando.
Se está bom, em dois dias está seca”, explica Eonete.
No entanto, algumas panelas se perdem nesta fase, já que
podem apresentar rachaduras. Se estiverem em estado perfeito, seguem para a
queima. O setor é dominado por homens, que se misturam entre o fogo e a fumaça
procedente do tanino, líquido aplicado nas panelas após a queima. O material é
extraído da casca da árvore do mangue vermelho. Essa tinta, além de deixar a
panela no tom negro, ainda as impermeabiliza.
Enquanto tira a panela do fogo e aplica o líquido, Ronaldo
Ramos Correa, de 51 anos, explica que é preciso passar o tanino até a panela
esfriar, senão ela fica vermelha novamente.
Durante a conversa com a reportagem, Laílson Gomes Ferreira,
de 47 anos, não tira o olho das panelas no fogo. Isso porque não há um tempo
exato para deixá-las queimando. “Tem que ver pela cor, não pelo tempo. Quando
ela atingir um tom caramelado, pode tirar”, diz.
Após o resfriamento das panelas, elas estão prontas para a
venda. Para quem as compra, vale seguir algumas dicas antes de usá-las: unte a
panela com óleo de cozinha, deixa-a queimar até o óleo secar e, em seguida,
espere a panela esfriar. Pronto! Ela já está perfeita para o preparo de uma
moqueca capixaba ou qualquer outra receita de sua preferência.
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