Nos cerca de 300 km percorridos de carro entre Campo Grande,
capital do Mato Grosso do Sul, e Bonito, uma das mecas do ecoturismo no Brasil,
bastava fechar os olhos e já podia “ver” imagens de grutas e rios coalhados de
grandes e coloridos peixes. Por isso, a vontade de chegar a esse lugar, que
combina totalmente com o nome que carrega, era grande. Expectativa que, desde
28 de abril de 2013, pode se “materializar” mais rápido, já que a Azul
inaugurou um voo regular para a cidade, saindo de Campinas (SP).
Com uma política de preservação ambiental rígida, o que
garante que a natureza e toda a sua beleza continuem extremamente bem
preservadas, a pequena cidade mantém lugares inacreditáveis. São grutas com
formações que parecem de outro mundo; rios de água cristalina que permitem
longas e sossegadas flutuações, um sem-fim de variedades de peixes e muitos
animais. Tanto quanto esses espetáculos de terra e água é preciso sentir ainda a
emoção de assistir a uma revoada de araras-vermelhas. Difícil fugir do
trocadilho: Bonito é bonito demais.
Entre tantas atrações espetaculares, a cidade tem seu
cartão-postal na Gruta do Lago Azul. Lá, depois de descer 292 degraus
encravados na pedra, aprende-se, na prática, o que são estalactites e
estalagmites. Os primeiros pendem do teto e os segundos nascem no chão,
emoldurando o lago subterrâneo de mais de 90 metros de profundidade e de um tom
azul intenso, onde vivem espécies milimétricas de crustáceos e repousam fósseis
de mamíferos, como o tigre-dente-de-sabre.
Bonito ainda conta com uma segunda gruta para visitação, a
São Miguel, e a Secretaria Municipal de Turismo espera abrir também ao público
a Gruta de Nossa Senhora de Aparecida. No entanto, se você estiver ansioso para
um mergulho, parta logo para as flutuações, mergulhos em que o visitante, mesmo
usando máscara de snorkel e pé de pato, se deixa levar ao sabor da correnteza.
Nos rios de Bonito, é possível contemplar o peixe do ponto
de vista do próprio peixe. Entre eles, a novidade é a flutuação na Nascente
Azul, inaugurada em dezembro de 2012. Começa com uma caminhada de pouco menos
de 2 km, por passarelas de madeira, para, então, seguir por 300 metros pelo Rio
Bonito, um afluente do Rio do Peixe. De colete e roupa de neoprene, você terá a
companhia de piraputangas, piracanjubas, curimbas, cascudos e lambaris.
Outra flutuação bastante agradável é no Balneário Municipal,
em que dão o ar da graça piraputangas e dourados enormes, graças à ração que os
turistas compram por R$ 1. O complexo, aberto das 8h às 17h, permite passar
todo o dia entre o Rio Formoso, as quadras de vôlei e futebol de areia,
lanchonetes e restaurantes, além de quiosques para quem quiser preparar o
próprio churrasco.
Mas o passeio top de Bonito atende pelo nome de Recanto Ecológico
Rio da Prata, que fica, na realidade, no município vizinho de Jardim, e é
exclusivo para o máximo de 150 felizardos por dia. A flutuação começa no Rio
Olho d’Água, dono da maior variedade de peixes entre os rios locais e de
nascentes que se assemelham a vulcões submersos, tamanha é a força da água
brotando do lençol freático e remexendo o fundo de areia. No mesmo espaço, há o
mergulho de cilindro na Lagoa Misteriosa, com visibilidade de 40 metros e
profundidade desconhecida.
Espetáculo no Céu
Aproveite a proximidade e agende a ida ao Rio da Prata junto
com a visita ao Buraco das Araras. No passeio, turistas podem conhecer Modesto
Sampaio, proprietário do lugar. Tem quem acorda com as galinhas. “Seu” Modesto
tem o privilégio de despertar com as araras-vermelhas, que fazem ninhos em
buracos nos paredões ou na parte oca de árvores forradas de madeira moída.
Ali, uma grande depressão de paredes avermelhadas – chamada
dolina (que seria o inverso de uma colina), com cem metros de profundidade e
160 de diâmetro – é rodeada por uma vegetação de cerrado, lar das
araras-vermelhas. Alegres e barulhentas, elas se agrupam nas árvores e, quando
menos se espera, partem em revoada. Ao fundo, a floresta esconde um lago
esmeralda habitado por um casal de jacarés-do-papo-amarelo.
Por motivos óbvios, não é possível se aventurar no tal
buraco. Mas, para liberar um pouco de adrenalina, salte de uma plataforma de
seis metros, caindo num poço na Estância Mimosa, onde as trilhas levam a
cachoeiras no Rio Mimoso, que convidam ao banho e funcionam como hidromassagens
naturais. Depois, é só curtir o almoço feito no fogão a lenha e um descanso no
redário, encerrando o dia com uma cavalgada.
Esse trecho foi retirado da revista Viaje Mais, seção
Brasil, edição 144.
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